quarta-feira, abril 26, 2006

Janelas e Guilhotinas

Depois de algumas semanas de desinspirada ausência, escrevo sobre guilhotinas.

E nestas podemos pôr a cabeça debaixo com alguma segurança...

Os franceses, pelo sim, pelo não, ainda as têm como janelas non gratas na arquitectura... cada um que conviva o melhor que puder com o seu passado...

Falo hoje de janelas de guilhotina. Digo falo porque o que aqui deposito são meras impressões, curiosidades, em jeito de conversa, resultado dela, com seres que vieram ao mundo para torná-lo mais belo, com uma linguagem própria que poucos entedem.

Estamos habituados a vê-las com duas folhas, que encontramos um pouco por todo o lado, em palácios, palacetes, eléctricos de lisboa, etc. Normalmente com caixilharia recticulada de múltiplos vidros, em que uma das folhas abre correndo para cima, na vertical, segurando-se em borboletas suspensas nas laterais.

Descobri há uns dias umas janelas de 3 folhas numa casa quase em escombros num passeio na Cidade da Neve e soube por fonte fidedigna que existem nas Ilhas dos Açores com muita frequência, especialmente em São Jorge e na Horta.

Fica um conto de Aníbal Albuquerque em homenagem a estas janelas...


A mulher e a janela


"Aquela janela era agora o seu limitado horizonte. Seu único contato com o mundo exterior. As folhas de madeira abertas durante o dia, fechadas à noite, quando passa da cadeira para a cama.

Uma guilhotina está no alto há muito tempo, talvez nem mais seja possível fazê-la descer. No inverno, a outra guilhotina é descida e só pode observar a árvore e o céu através dos vidros. No verão, como agora, os vidros encaixilhados permanecem no alto e a parte inferior fica livre para a entrada do ar. Às vezes, até mesmo de um beija-flor multicor, para sua alegria.


Era uma bela janela. O batente espesso, os caixilhos escuros, os vidros translúcidos, porém, coloridos na bandeirola fixa. Podia fechar os olhos que a janela ficava ali na sua mente com todos os detalhes. Cada guilhotina com seus dezesseis vidros retangulares. Lembrava-se, perfeitamente, quando seu pai chegou com ela e suas três irmãs gêmeas. Duas estão na sala e a outra no quarto que fora de seus pais. Aquela ali era a sua janela.


Ela chegara sem os vidros. O carpinteiro montou-a com todo o cuidado, numa manhã de sábado. Seu pai experimentou várias vezes as duas guilhotinas. Corriam bem nos montantes. O vidraceiro só viria na segunda-feira. Por duas noites, as folhas permaneceram fechadas, desde cedo, pois não havia vidros nos caixilhos. Quando a janela ficou pronta, ela menina sorrira de satisfação. Não imaginava que agora ficaria tantas horas, unicamente, em companhia dela.


Por ela passara também seu único amor, naquela noite distante, quando seu pai estava de viagem a São João da Boa Vista, por motivo de grave doença do avô. Estiveram os dois nos braços um do outro, felizes, naqueles momentos inesquecíveis. Olhando por ela, esperara, tantas vezes ansiosa, a chegada do alazão, trazendo seu namorado. Junto a ela bordara quase todo o seu enxoval de noiva apaixonada. Debruçada nela, chorara a morte estúpida do amado, por questão de política, três dias antes do casamento.


Olhando para ela, agora, sabe que sua querida janela conhece todos os seus segredos. Sente não mais poder limpar seus vidros, nem dar brilho a suas partes de madeira. A empregada faz o serviço com perfeição, mas sem o carinho seu. Quando a orienta, sentada em sua cadeira de rodas, gostaria de substituir suas mãos, para que pudesse acariciar sua janela em todos os seus pontos tão conhecidos.


Emoldurada por ela, apenas a árvore ressequida, tão seca quanto sua alma, nesta vida de inválida. O livro em seu colo está aberto, mas seu coração, há tanto tempo fechado, não recebe mais emoções, que o pudessem fazer vibrar e ter esperança. Restam apenas recordações e saudades, esmaecidas pelo tempo."

Aníbal Albuquerque

Para Scheilla

1999



quinta-feira, abril 20, 2006

Pecado

Publico hoje um poema do meu irmão. É o amor aos 17, o número de Portugal.
PECADO

Sofrimento…sentimento que governa a nossa vida e nos dá aquilo pelo qual lutamos toda a vida…sentimento que dá razão ao nosso objectivo de vida…que nos dá a razão pela qual passamos maior parte da nossa vida à procura da nossa razão de viver…a razão para continuar…
Ás vezes…mesmo que pensemos o contrário…nós fugimos de nós mesmos…fugimos daquilo que temos medo de alcançar…que não compreendemos…a verdade é que passamos toda a nossa vida a fugir…e quando queremos voltar a tentar…já não há saída possível…
Eu fujo…eu fujo com o medo de não conseguir o possível…de não compreender o que me espera…fujo pelo medo…de todas as minhas crenças e fantasias se dissipem no fino ar que me rodeia…que todas as minhas formas e sentidos desapareçam com o tempo que passa…
Eu fujo pois não quero que o tempo passe…quero ficar para sempre perdido no presente que me faz sentir tão bem…quero ficar no presente que tanto demorei a construir…quero ficar longe do futuro que me espera…do futuro que não planeei…do futuro que me esconde todos os objectivos que a vida me deu…eu fujo…porque tenho medo…
E se eu morrer…? Será que alguém notará…?

E se eu me perder…? Alguém me procurará…?

E se eu me sentir só…? Alguém virá…?

Se eu me sentir perdido…? Alguém virá ajudar-me a encontrar-me…?

Eu sangro por dentro e ninguém nota… meu coração perdeu-se e ninguém o encontra… ninguém o quer encontrar… já não sei se continuo…ou se me deixo ficar…que importa…? Ao menos a morte será mais meiga e doce do que a vida…e este será…
…o meu último e maior pecado…

domingo, abril 09, 2006

Lys

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